quarta-feira, 16 de março de 2011

DOUTOR MANUEL SIMÕES


O DOUTOR MANUEL GONÇALVES SIMÕES FOI PROFESSOR DE PORTUGUÊS NA SECÇÃO PREPARATÓRIA AOS INSTITUTOS COMERCIAIS, NO ANO LECTIVO DE 1970-1971, UM MESTRE QUE DEIXOU IMENSAS SAUDADES, ENSINAVA, EM TEMPOS DE DITADURA, O QUE ERA A DEMOCRACIA, A CIDADANIA, A LITERATURA, ETC...
Nasceu em Jamprestes (Ferreira do Zêzere) em 1933. Poeta, ensaísta... e professor universitário, é licenciado em Filologia Românica pela Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa e em Línguas e Literaturas Estrangeiras pela Universidade de Veneza. Viveu em Itália desde 1971 até se jubilar, ensinando Língua e Literatura Portuguesa na Universidade “Cà Foscari,” de Veneza. Desde 1977 colaborador da revista «Colóquio/Letras», pertence à redacção da revista «Rassegna Iberistica» (Veneza). Entre 1967 e 1969, pertenceu à redacção da revista «Vértice» (Coimbra). Foi, em 1966, um dos fundadores da colecção «Nova Realidade» (Tomar). Apresento-vos dois poemas seus, um do primeiro livro que publicou, outro do mais recente.

Ceifeira, não dobres tanto a cintura
Ceifeira,
cantar agreste
na flor do vento,
trigo e suor
amargurado
no esquecimento.
Ceifeira,
de sol a sol
teu canto trespassa
o trigo.
Com lâmina
fere a espiga,
põe-na revolta,
explosiva.
Ceifeira,
ó que amargura
te vai no corpo
agravado.
Sempre a dar
o corpo à terra
e teu sangue
amotinado.
Ceifeira,
levanta a foice
não dobres tanto
a cintura.
Quem trabalha
a terra alheia
não pode usar
a ternura.
(Crónica Breve, Tomar, 1970)

Teoria da composição
O artífice imerge
as mãos na matéria
avulsa a transformar.
Sem artifício investe
o próprio corpo no acto
preciso de plasmar.
Seja a matéria
argila, aço ou palavra
espúria a desbastar.
Do ofício extremo
resta o resíduo: densa
e intensa arte de amar.
(Micromundos, Lisboa, 2005)

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